MICE ENTREVISTA | Angélica Molteni Paixão*
POSTAGEM
*Angélica Molteni Paixão é Doutora em Administração; autora do livro “De Smart City a Destino Turístico Inteligente”; mestre em Turismo; especialista em Gestão de Marketing; bacharel em Administração e em Turismo. Diretora na Acelera Brasil, agência de viagens corporativas, e coordenadora do projeto MICE Curitiba.
Em uma palavra, como você definiria a nova era que estamos vivenciando no segmento MICE?
Oportunidade.
Por que oportunidade?
Há alguns anos, dediquei-me ao estudo sobre gestão de transição e comportamento das pessoas e, quando os eventos híbridos e o trabalho remoto acabaram fazendo parte da nossa vida, entendi que não reverteremos totalmente nosso cenário do presencial para o virtual em três ou quatro anos. E estamos percebendo isso agora, depois da retomada dos eventos presenciais em grande quantidade, trazendo novas oportunidades para o setor.
Atualmente, quais são os maiores desafios para o segmento MICE?
Olha, eu vejo o setor do turismo como muito amplo. Temos sete grandes áreas que abrangem todo o setor turístico, e eventos é uma delas. O mercado turístico precisa dessas sete áreas para compor o produto e entregar um bom serviço. O que acontece hoje é que outras áreas, como administração, publicidade e comunicação, acabaram encontrando uma brecha para também atuarem dentro do mercado turístico. Isso permite que, em todas as áreas, possamos ser muito mais assertivos e produtivos no nosso dia a dia, especialmente quando entendemos como o movimento turístico inteiro se comporta.
2023 foi excepcional para muitas empresas do segmento. A que você atribui esse desempenho?
Temos números realmente incríveis, como mencionei sobre o pós-pandemia. A Associação Brasileira de Viagens Corporativas afirma que, apenas no Brasil, o setor de viagens superou em 30% os números de 2019, antes da pandemia, acumulando um faturamento de 131 bilhões de reais. Percebemos que as empresas e os destinos turísticos estão investindo cada vez mais em estratégias para atrair eventos dessa esfera. Reconhecendo que o impacto econômico direto do setor é muito importante, ele também traz benefícios diretos e indiretos, movimentando todo o mercado daquela cidade que está recebendo esse modelo de evento. Quando um turista se desloca para fazer uma viagem de negócios e consome o que a cidade já possui, como restaurantes e transportes, gera mais valor para esse destino.
Como você vê a evolução de Curitiba no mercado MICE nos últimos anos?
Curitiba tem um histórico notável no mercado MICE, sempre se destacando. Recebemos uma pesquisa recente, de 2024, que coloca Curitiba em terceiro lugar como a cidade no Brasil que mais recebe eventos corporativos. Isso tudo vem de anos de trabalho, nos quais tanto as empresas privadas quanto a prefeitura trabalham para posicionar a cidade dessa forma, promovendo o marketing de Curitiba em feiras e rodadas de negócios. Mostrando como Curitiba, que recentemente ganhou o título de cidade mais inteligente do mundo, pode também contribuir para o turismo de negócios.
Segundo pesquisas, o turista MICE gasta 17% mais que o turista de lazer. Como a indústria hoteleira está se adaptando a isso?
O que temos percebido é que o comportamento do turista de negócios sempre foi muito diferente do turista de lazer. Apesar de permanecer menos dias no destino, suas exigências são distintas. A exigência por serviços de qualidade é maior, como a necessidade de internet de banda larga de alta qualidade no hotel. Os hotéis estão percebendo que precisam ter salas de eventos, por exemplo, para poder receber esse tipo de turista. Eles também percebem, cada vez mais, que as empresas que buscam hotéis para seus funcionários estão valorizando o universo ESG. Assim, elas procuram estabelecimentos e serviços alinhados com essas diretrizes.
Falando em tecnologia, como o segmento MICE tem acompanhado as novas tendências?
Temos pesquisas interessantes que mostram como as tendências de mercado estão se desenvolvendo no universo MICE. Primeiramente, vamos sempre enfatizar o uso de tecnologia avançada, aplicativos e plataformas de reservas on-line e de monitoramento. Para esse grupo de viajantes do segmento MICE, também é essencial fornecer um atendimento personalizado, e a tecnologia tem ajudado bastante. Assim como na questão da sustentabilidade e gestão de riscos. A integração de serviços é também uma tendência de mercado crucial, pois facilita a conexão entre diferentes serviços. A inteligência artificial e a análise de dados fazem com que possamos conectar informações, tornando-nos mais assertivos. O valor agregado é essencial. Precisamos oferecer serviços como consultorias de viagens, programas de fidelidade e relatórios analíticos sobre as viagens. Isso ajuda as empresas a se sentirem mais seguras ao promover o segmento MICE.
Quais as vantagens para organizações públicas e privadas ao investirem em eventos e turismo de negócios?
O aumento da economia local, da renda e da geração de emprego são indiscutíveis. Não tem como não falar em movimentar o setor turístico, pois isso impacta diretamente nos setores de serviços e de produtos de uma cidade. Então, é muito importante. Percebeu-se também que, com o choque da pandemia, as pessoas deixaram de viajar e muitos setores não imaginavam o quanto os turistas realmente impactavam no negócio deles e na economia da cidade. Com essa percepção, as cidades hoje em dia estão promovendo cada vez mais o marketing de seus locais para atrair esses turistas, seja de negócios ou a lazer, e outros segmentos do turismo, para realmente fomentar a renda e a geração de emprego.
Quais as principais mudanças que você prevê no mercado nos próximos dez anos?
Sabemos que a palavra “experiência” tem ganhado cada vez mais importância no mundo em que vivemos. Não dá para negar que a inteligência artificial se tornará uma grande aliada neste setor, mas o ser humano precisa sentir, e é aí que os eventos, com todas essas mudanças, acabam trazendo essa oportunidade que foi a primeira palavra que falamos hoje. Quando conseguimos tocar aquela pessoa, aquele colaborador, aquele profissional, seja em uma feira de negócios, seja em um evento de uma convenção onde ele vai absorver conteúdo, seja em uma palestra de treinamento, sabemos que teremos resultados muito positivos. Então, acho que temos que esperar que o mercado se comporte de forma cada vez mais profissional, usando essas tecnologias e a inovação que tanto nos auxilia hoje em dia no mercado de viagens corporativas.